terça-feira, 10 de novembro de 2015

Número de refugiados sírios cresce na Europa

Busca por uma vida melhor leva famílias a procurarem abrigo em países distantes do conflito 

Refugiados sírios / Foto Stephen Ryan
Por Luana Viegas

A Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) estima que, entre 2015 e 2016, 1,4 milhões de pessoas cheguem ao velho continente. A escala da violência por grupos extremistas, em combate com as tropas do atual presidente Bashar Al- Assad, fez com que 4 milhões de sírios procurassem refúgio em países vizinhos como Jordânia e Líbano. 

Para chegar ao destino desejado, inúmeras famílias se arriscam ao realizarem travessias que, em diversas situações, acabam em tragédias, como a do menino Aylan Kurdi, encontrado morto na costa turca. Segundo a ACNUR, apenas no mês de abril foram contabilizadas 1308 mortes. 

A falta de assistência da Europa em receber os refugiados tem levantado críticas aos governos locais. “Os países europeus não estão muito interessados em receber essa leva de refugiados, a qual se intensificou muito a partir da Primavera Árabe. Ao longo de 2014, mais de 1750 pessoas morreram tentando chegar a Europa pelo mar. Ela só recebe aproximadamente 10% dessa gente que tenta fugir das zonas de conflito”, comenta a especialista Marcia Camargos.

O atual presidente Bashar Al- Assad disse a jornalistas russos que a crise de refugiados só será resolvida quando o ocidente parasse de apoiar os terroristas. “Falam da questão síria e da figura do presidente como se ele fosse o responsável por essa onda de refugiados e não do dinheiro que está sendo colocado dentro do país para destruí-lo. Esse dinheiro paga o Estado Islâmico, a Frente Al- Nusra (filiada da Al- Qaeda) e o Exército Livre da Síria”, declara a pesquisadora e especialista no conflito Claude Hajjar.

Emirados Árabes, Arábia Saudita e Catar são alguns dos países que não abrem sua fronteira para os sírios, segundo Camargos, por uma questão de hipocrisia. “Eles investiram no conflito sírio, mas exigem o visto para a população que é muito caro e difícil. É realmente uma vergonha ver esses países que tem verba fecharem suas portas, pois preferem os indianos, por exemplo, para os trabalhos básicos e não estão interessados em demonstrar a menor solidariedade aos seus irmãos muçulmanos”, reitera a especialista.

A Síria é apoiada pelo Irã, China e Rússia, que atualmente ajuda Assad a combater o Estado Islâmico. Já os Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Turquia e Arábia Saudita auxiliam os opositores ao presidente. Para Marcia Camargos, a Síria está longe de ter um momento de paz. 

“Posso fazer uma análise de que com todas essas forças antagonistas atuando na Síria, não parece haver uma saída a curtíssimo prazo. Em minha opinião, a Síria vai acabar saindo desse conflito como um país dividido. A integridade territorial poderá não ser mantida”, completa Camargos.

Já Claude Hajjar, tem uma visão mais positiva. “O futuro da Síria vai ser bom. Vai ficar difícil por algum tempo, pois tem que lidar realmente com os escombros que, em minha opinião, o mais difícil é o psicológico. Eu acredito que as pessoas vão sair mais fortalecidas de tudo isso”, finaliza.

O Brasil na rota dos refugiados

Desde o início da guerra, o Brasil foi o país que mais recebeu refugiados na América Latina, 2,077 segundo o Comitê Nacional para Refugiados (Conare). Os que chegam ao país são enviados a organizações como o Instituto de Reintegração do Refugiado.

Ahmad Serieh é um arqueólogo sírio que mora em São Paulo há seis anos. Atualmente, além de trabalhar com projetos de arqueologia, arte e civilização, é professor de língua árabe clássica e popular na Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul Países Árabes (BibliASPA). Segundo Serieh, o Brasil é um ótimo país para morar.

“A minha experiência no Brasil está sendo ótima. O povo brasileiro é muito acolhedor e gentil. Também tem muito interesse na cultura, tradição e culinária árabe”, comenta Serieh. O fato de São Paulo ter uma história com a imigração sírio-libanesa contribui para o acolhimento caloroso dos que chegam na cidade. 

“Os refugiados e imigrantes da Síria, ou de qualquer outro país, não têm muita dificuldade em se adaptar. Eles aprendem rápido a língua portuguesa, os costumes e como viver na sociedade”, conclui. 

Apesar da fácil adaptação com o idioma, uma parte dos que chegam ao Brasil demoram em conseguir um trabalho fixo. Os baixos salários e a dificuldade em validar o diploma nas empresas estão entre os problemas mais comuns. A falta de oportunidade também se dá pelo fato da religião. Casos de terrorismo, como o que aconteceu no mês de novembro em Paris, contribuem para o desprezo e abandono dos refugiados.

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